terça-feira, 16 de setembro de 2008

A latinha de leite

Um fato real.
Dois irmãozinhos maltrapilhos, provenientes da favela, um deles de cinco anos e o outro de dez, iam pedindo um pouco de comida pelas casas da rua que beira o morro.
Estavam famintos: 'vai trabalhar e não amole', ouvia-se detrás da porta; 'aqui não há nada moleque, dizia outro.
As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças.
Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes 'Vou ver se tenho alguma coisa para vocês.
Coitadinhos!' E voltou com uma latinha de leite.
Que festa! Ambos se sentaram na calçada.
O menorzinho disse para o de dez anos 'você é mais velho, tome primeiro.
E olhava para ele com seus dentes brancos, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.
Eu, como uma tola, contemplava a cena.
Se vocês vissem o mais velho olhando de lado para o pequenino! Leva a lata à boca e, fazendo gesto de beber, aperta fortemente os lábios para que por eles não penetre uma só gota de leite.
Depois, estendendo a lata, diz ao irmão 'Agora é sua vez.
Só um pouco.' E o irmãozinho, dando um grande gole exclama 'como está gostoso!' 'Agora eu', diz o mais velho.
E levando a latinha, já meio vazia, à boca, não bebe nada.
'Agora você', 'Agora eu', 'Agora você', 'Agora eu'.
E, depois de três, quatro, cinco ou seis gole, o menorzinho, de cabelos encaracolado, barrigudinho, com a camisa de fora, esgota o leite todo.
Ele sozinho.
Esse 'agora você', 'agora eu' encheram-me os olhos de lágrimas... E então, aconteceu algo que me pareceu extraordinário.
O mais velho começou a cantar, a sambar, a jogar futebol com a lata de leite.
Estava radiante, o estômago vazio, mas o coração trasbordante de alegria.
Pulava com a naturalidade de quem não fez nada de extraordinário, ou melhor, com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas extraordinárias sem dar-lhes maior importância.
Daquele moleque nós podemos aprender a grande lição, 'quem dá é mais feliz do que quem recebe. '
É assim que nós temos de amar.
“Sacrificando-nos com tal naturalidade, com tal elegância, com tal discrição, que os outros nem sequer possam agradecer-nos o serviço que nós lhe prestamos.”

Autor Desconhecido

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